Selo #Algolatr.IARecomenda: Livro Depois do Futuro, de Franco Berardi, Ed. Ubu



“Um diagnóstico crítico de nosso tempo” é o que diz a contracapa deste livro e logo nos chama a atenção. Uma articulação entre filosofia, política, arte, cinema e literatura, com uma voz às vezes poética, às vezes áspera, do ativista italiano Franco Berardi, é possível acessar uma análise quase existencialista de um termo que moveu céus e montanhas no último século: o futuro!

O futuro para Franco “Bifo” Berardi, foi o grande bode expiatório de um movimento naturalizado pelo modus operandi capitalista: a guerra. Por meio do aprisionamento do passado, isto é, por meio da construção minuciosa e seletiva de uma história contada pelos titãs do mundo moderno, projeta-se um futuro tecnológico, livre dos malfazejos e limitações da ignorância, da falha humana, da maldade, daquilo que é tido como a causa do mal passado. O ideal patriarcal capitalista consolida a visão do que vem a ser o futuro (futurismo italiano, filho do fascismo) e, assim, o sujeito presente, aquele que sofre as agruras do pós guerra, da fome, da precariedade, da exploração, permanece preso ao sonho de um porvir que alivie, mas também justifique e recompense o trabalho árduo, incansável do agora.

Berardi elenca os princípios éticos (e, consequentemente, estéticos) que dão tom ao futurismo que encobriu o imaginário mítico no séc. XX: velocidade, potência, força, virilidade, grandeza, externalidade, linearidade, dureza, metal, perfeição. É o “ethos bélico”, o ethos da penetração, da dominação, da transformação da natureza em “recursos naturais” a serem usufruídos pelo ser humano, do carro de corrida e da grande máquina industrial. Aqui encontramos a “bifurcação entre a imaginação utópica e a distopia real”, o futuro funde-se ao ideal.

“Haveria luz no fim do túnel, já que “a nova produção capitalista não é mais produção de mercadorias para o corpo e para a mente, mas produção direta de corpo e mente”? Os desafios teóricos são imensos. (...) No plano da prática, conectividade e precariedade são dois lados da mesma moeda”.

O resultado é a desilusão característica do séc. XXI. A firme impressão de aceleração do tempo, a ansiedade, a mania é o caráter compulsivo que mantém o trabalho constante, independente da qualidade de vida de quem o faz. A depressão é o outro lado da moeda, é a apatia, é a exaustão grave, é o olhar cru e nu para um real cruel que aniquila as perspectivas de renovação, crescimento e elevação. O que resta é um sujeito-sociedade colapsado, sem referências e esvaziado de sentido.

Um livro de fácil compreensão, com 7 capítulos (incluindo introdução, o manifesto pós-futurista e um posfácio sobre futurabilidade) e diversos subtópicos que trazem dinamicidade à leitura. Se o leitor se interessa por cibertempo, ciberespaço, ciberpensamento, mídia e máquina da verdade, visões de rede e estudos filosóficos sobre tecnologia, este livro é para você.


Por Sanmella de Pinho e Santos

spinho.adv@outlook.com


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